Não tem como começar qualquer retrospectiva do ano de 2022 sem falar da guerra Ucrânia x Rússia. Foi, sem dúvidas, o principal catalisador dos inúmeros desafios dos países, na figura de seus Bancos Centrais de trazer a economia de volta ao controle. O que torna mais complicado ainda é que o mundo estava em um período de transição pós pandemia. O setor de alimentos (incluindo o mercado de insumos para a produção) e de energia foram altamente afetados. Os primeiros reflexos foram vistos no Milho e Trigo, as duas principais commodities exportadas pela Ucrânia e com participação relevante no balanço de O&D mundial.
Gráfico 1: Milho e Trigo CBOT
O estresse de preços dura meses e até expandiu para outras commodities. A retaliação do ocidente veio através de sanções principalmente econômicas que desencadeou uma série de problemas em especial no continente europeu pela dependência da indústria de energia russa. As sanções econômicas afetaram a Rússia desde o primeiro dia da invasão, como mercado de ações caindo 39%. A moeda russa (rublo) bateu a máxima histórica de desvalorização com retirada em massa de dinheiro do país. As agencias de ratings classifi-caram o crédito do governo russo como “lixo”, dificultando empréstimos. Em paralelo, o mercado de energia inflou. Importante produtor de petróleo e gás natural, as cotações atingiram a máxima dos últimos 13 e 14 anos, respectivamente.
Gráfico 2: Gás Natural e Petróleo Brent CME
A Rússia reduziu os fluxos de gás natural para a Europa em resposta as sanções e causou efeito direto na indústria de produção europeia. Plantas foram forçadas a parar ou diminuir a capacidade, dentre elas a indústria de fertilizantes. Os custos de produção foram as alturas, termelétricas a carvão foram reativadas em completo desacordo às metas de despoluição. Cenário de descontrole econômico e socioambiental. Nesta parte entram os governos. O índice de preços de alimentos determinado pela FAO, que rastreia as commodities alimentares mais negociadas globalmente estabeleceu um novo recorde histórico em mar/22. A guerra desencadeou um senso de escassez de produtos que levaram a uma inflação global enfrentadas poucas vezes por países desenvolvidos. Acentuado pelo excesso de credito no período de pandemia para incentivar o consumo, o movimento de retirada de dinheiro ficou mais complicado. Para controlar a inflação, Bancos Centrais vem aumentando os juros e pressionando a economia para diminuir o consumo, desincentivando investimentos e a geração de empregos. A conta é simples: quando há aumento de juros, mais atrativo é ao investidor ‘emprestar’ esse valor ao governo do que correr o risco em outros ativos. Retira, portanto, o dinheiro da economia. Com o mercado frio, a tendencia é que os preços caiam ao ponto de precisar aquecer novamente e isso vira um ciclo. Em outras palavras, estamos em um momento em que claramente não é interessante aos governos que os preços continuem subindo, dentre eles, as commodities.